terça-feira, 13 de julho de 2010

O bater de asas de uma despedida

Raul abriu a porta bruscamente, olhando no rádio relógio aceso, marcando 21h em ponto, em pânico tateou a parede ao lado da porta acendendo a luz identificou em cima da mesa de centro de sua sala controle-remoto da TV.
Bateu a porta ligeiro dando um longo passo à frente e deixando o braço pra trás, com a outra mão apanhou o controle veloz se atirando no sofá e ligando a sua televisão.

Olhou no noticiário se negando a acreditar, trocou o canal inúmeras e sequênciadas vezes e se entregando ao foto exposto estacionou num canal qualquer, as imagens mostravam as chamas do voo 133 da BRA' que caíra numa fábrica de fogos de artifícios, quando o repórter anunciava:
_Embora a fábrica se encontre distante de qualquer moradia da cidade, os envolvidos no acidente não tiveram chances. Os bombeiros tentam cessar as chamas.

Raul então olhou estatelado com extrema agonia em sua face, como se somente sua alma chorasse e num instante entrou em desespero, um frenesi! Levantou de seu sofá num salto por cima da mesa de centro e aterrissou de frente para tv, segurando-a com ambas as mãos em suas laterais e a jogou contra o chão, partindo ao meio e lançando faíscas!

Desesperadamente correu pelos cómodos do aparmento gritando incansavelmente, "Não pode ser! Tem de ser mentira!", e de repente caindo em estântanea depressão ao adentrar seu quarto, se atirou na cama abraçando o travesseiro de sua esposa e em prantos começou a dizer: _Por quê?! Por que escolheu essa viajem?!
Após aproximadamente 2h ali, imóvel, se levantou com um olhar estático que mais parecia uma janela aberta para sua alma. Caminhando até seu banheiro foi retirando seu paletó que não tivera tempo de tirá-lo e o deixou cair pelo chão, afrouxando a gravata já adentrando seu banheiro abriu o armário do espelho pegando alguns analgésicos e engolindo-os de uma só vez.

Entrou em sua banheira de roupa e sapatos, ligou as torneiras e recostou sua cabeça na beira da banheira. Durante alguns minutos parecia estar desligado do mundo, a banheira transbordava e a água ultrapassava os limites do banheiro.
Ele se levantou e caminhou sobre as possas d'água que escorria para cozinha, voltou para sala se dirigindo a sua estante e ligou seu rádio pondo um vinil, e ao som de Little Girl in Bloom do Thin Lizzy, apanhou a garrafa de uísque 12 anos na prateleira ao lado.

Com seu corpo molhado respingando pelo chão, bebendo uísque direto da garrafa caminhou até a porta da sala que dava na sacada do apartamento, foi cantando junto da música e nesse momento lembrava de quando conheceu sua esposa Ana, na faculdade há 10 anos atrás. Tocou essa canção no carro do pai de Raul no seu primeiro encontro com Ana, carro que ele roubou após o jogo de cricket do time da faculdade.
Então Raul chega á sua sacada e apoia uma das mãos no parapeito e com a outra segura firme a garrafa, olha para as estrelas, e olhando fixamente uma única lágrima corre seu rosto com o peso do mundo, ele dá um contido sorriso e em voz alta pergunta: _Amor, lembra desse dia?! - Bebeu um pouco mais num gole grande, a agulha saiu do disco, e ele afirmou "Eu lembro!"; se jogando num voo livre do 19º andar de encontro à eternidade ao lado de sua amada...

2 comentários:

Hebert Vaz disse...

Nossa...esse blog anda muito pessimista...q isso??!
rsrsrsrsrsrsrsrsrs

Viva Raul...

Denise Ribeiro disse...

UAU! Tô sem palavras. Porque foi muito envolvente. Realmente me senti vendo as cenas, a por momentos, consegui sentir o que o Raul sentiu. Adorei! Está de parabéns, Rafa.

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